A Teta Assustada

15-04-2010 23:07
 
(La Teta Assustada, Peru, 2009)
Para mim a oralidade sempre foi uma das formas de preservação cultural mais intrigante das existentes. A possibilidade de repassar histórias, mitos, lendas através da fala é algo muito interessante. Hoje temos vários métodos de armazenagem que substituem a obsoleta máquina humana fadada ao fracasso do esquecimento. Entretanto não há nada que substitua a força das palavras proferidas pelos mais velhos, o que levam os jovens ouvintes a um processo de auto-conhecimento quase material.

O peruano “A Teta Assustada” vem para afirmar a importância da fala nesse processo de imersão experimentado pela personagem principal do filme – imersão em si mesma e na cultura e história peruana. Por fazer uso de canções como válvula de escape para a verbalização de frustrações e traumas, descrevo o filme como um dos mais poéticos do ano passado. Além de ter construído um texto interessante, a câmera da diretora Claudia Llosa trabalha numa sintonia rigorosa com as palavras, o que faz do filme ainda mais especial.

Para quem ainda não ouviu falar de “A Teta Assustada” - o primeiro filme peruano a conquistar o Urso de Ouro no Festival de Berlim e uma indicação ao Oscar - o longa gira em torno de Fausta, uma bela jovem indígena fruto de um estupro ocorrido no início da década de 1980, quando o grupo terrorista Sanderos Iluminados espalhava terror pelas aldeias peruanas, deixando um rastro de medo e traumas - principalmente nas mulheres violentadas.

O título pode parecer um tanto quanto estranho, porém é plenamente justificável dentro da cultura. A teta assustada é o nome de uma doença repassada através do leite materno - uma crendice que vigora até hoje nas localidades rurais peruanas. Dessa forma, acreditava-se que Fausta teria recebido da mãe um legado de medo e terror.

Para fugir do mesmo destino da genitora, cujas marcas da violência permaneceram até os últimos dias no leito de morte, Fausta opta por uma maneira nada usual de se fazer imune a um provável abuso, implanta uma batata na vagina, o que seria suficiente para interromper o coito.

Logo no começo do filme, Fausta tem de lidar com a morte da mãe, sendo obrigada a sair do casulo que a protegia e conseguir dinheiro para custear o enterro da velha índia em sua aldeia de origem. O ritual de passagem acontece simultaneamente ao casamento da prima de Fausta. Temos a rejubilação da família e, ao mesmo tempo, o luto angustiante e solitário da personagem. Os caminhos tomados por Fausta para alcançar o fim desejado – enterrar a mãe com dignidade – fazem-na mais forte em saber lidar com a perda e consigo mesma – com todas as suas imperfeições e fragilidades.

Como plano de fundo do drama vivido por Fausta, existe a crítica tênue à pobreza, às disparidades sociais e, até mesmo, à influência dos países hegemônicos, principalmente os Estados Unidos, no gosto do povo das esferas menos favorecidas do Peru.

Em “A teta assustada” existe uma valorização visível de olhares e tomadas extremamente simbólicas. Os diálogos são poucos e curtos e o ritmo, de maneira geral, é bem cadenciado. O filme conta ainda com uma interpretação mediúnica da atriz Magaly Solier. Se você curte poesia visual, vale a pena conferir! É bem provável que “A Teta Assustada” te agrade!

 

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